O Culto à Santíssima Virgem e o seu papel no Plano da Salvação-10





Por que a Bíblia fala tão pouco de Maria, se ela é tão importante?

Comecemos dizendo que, como vimos, não é tão pouco, não. Vários foram os que defenderam que a Virgem está na verdade em toda a Bíblia, só que de modo velado, não explícito, como inclusive parece ter sido o seu traço vocacional. Como falou Sto Inácio de Antioquia, a nobreza da Virgem se deu em segredo, seja do mundo, seja do demônio, seja dela mesma. Santo Afonso chega a dizer que a dignidade da Virgem foi escondida até de si mesma. Não apenas ela, mas também a identidade do Cristo. Isto explica a tentação. Sendo Deus, Jesus não poderia pecar. No entanto, foi tentado pelo demônio. A explicação mais coerente é a que afirma a ignorância de Satanás a respeito da identidade divina de Jesus.

No entanto, dizem os santos, assim como a vocação da Virgem, no início da Redenção, foi dada no silêncio - ela guardava tudo no seu coração -, bem como a divindade de Jesus foi ocultada aos homens, no fim dos tempos um e outro aparecerão de modo ostensivo. A segunda vinda de Jesus será absolutamente gloriosa e Ele mostrará de fato Quem é. Do mesmo modo, o papel da Virgem no fim dos tempos será totalmente explícito, e este papel inclui os preparativos para a Parusia. Mas voltemos à Bíblia.

É fato que nós não encontramos nenhuma afirmação explícita sobre Maria nas cartas de Paulo, nem nas de Pedro, nem nas de João, nem na de Tiago, nem na de Judas. A que isto se deve?

A Igreja ensina que a Bíblia está voltada, de modo primeiro e quase único, para uma só figura: a central, que é Jesus. Tanto o Antigo Testamento quando o Novo têm n'Ele o seu eixo, e somente d'Ele falam de maneira privilegiada. E mesmo no que se refere a Ele, somente é relatado aquilo que é essencial para a compreensão do Mistério necessário à salvação. Este conteúdo revelado inclui o explícito e o implícito. Lembramos, além disso, que nunca foi intenção de nenhum dos apóstolos que a Bíblia fornecesse um conjunto completo dos conteúdos da Fé. A Sola Scriptura só vai ser concebida, com todas as suas contradições inerentes das quais, porém, os seus promotores pareciam inconscientes, no séc. XVI. Esta inconsciência da contradição é bem a característica da Idade Moderna, que tem ali o seu início.

Para se ter uma idéia de como a Bíblia restringe as coisas ao seu mais essencial - que, no entanto, só pode ser compreendido na sua ambiência extra-escriturística -, notemos que, por menor que fosse a importância de José - e ele era importantíssimo: a Virgem e o menino Jesus lhe foram confiados! -, a Bíblia não relata dele uma fala sequer. Isto, contudo, não legitima dizer-lhe inútil ou vulgar. Então chegamos a uma conclusão inicial: a quantidade de menções bíblicas a alguém não é um critério para a valoração espiritual dessa pessoa.

Mas há outras teorias que, longe de serem mutuamente excludentes, atuam complementando umas as outras. Numa delas, se relembra que nos primeiros séculos a Igreja sofria intensa perseguição. Numerosos são os mártires que dão a vida pelo Evangelho. Assim, era papel dos Apóstolos guardar e proteger Maria. Assim como toda Rainha tem os seus escudeiros, João foi eleito, pelo próprio Cristo, o pajem da Virgem. Se a Arca do Antigo Testamento deveria ser protegida, quanto mais a do Novo! Assim, era de prudência que os Apóstolos se referissem pouco a ela, ao menos nos registros escritos.

Uma outra teoria ressalta as crenças politeístas das quais os neófitos cristãos eram antigos adeptos. Assim, havia o risco de, habituados à idéia de vários deuses, os recém convertidos confundissem Maria com uma de suas deusas. Com efeito, vemos um relato de um suposto convertido por São Paulo quando da sua pregação no Areópago, na Grécia, Dionísio Areopagita. (Cf At 17,34) Diz ele, lá pelo ano 96 d.C.:



“Confesso na verdade, que não pensava que fora de Deus fosse possível beleza tão sublime e celestial, como a que contemplei. Vi a Maria Santíssima! Pude ver e rever com meus próprios olhos a Mãe de Jesus Cristo! Confesso mais uma vez que, quando João me levou à presença deífica da Virgem altíssima, fiquei deslumbrado por um esplendor tão grande, que me desfaleceu o coração e faltou a respiração, oprimido como estava pela glória de tamanha majestade (...) Eu a teria adorado como deusa, se a fé não dissesse que ela era também criatura!”

Se o relato é verídico - e de fato o escrito o é - não espanta a prudência dos apóstolos em apresentar Maria aos novos cristãos.

Além disso, nos chegaram também relatos dos próprios escritores bíblicos, como Tiago, que já citamos, e inclusive dos próprios evangelistas Marcos e João, que trazem informações sobre a natureza inequívoca de Maria.

Nas Liturgias do Egito, há a oração atribuída a São Marcos, que repetimos mais uma vez:

“Lembremo-nos, sobretudo, da Santíssima, intemerata e bendita Senhora Nossa, a Mãe de Deus e sempre Virgem Maria.“

Já o Apóstolo André teria dito:

“Maria é Mãe de Deus, resplandecente de tanta pureza, e radiante de tanta beleza, que, abaixo de Deus, é impossível imaginar maior, na terra ou no céu”. (Sto Andreas Apost. in trasitu B. V., apud Amad.) 

“Tendo sido o primeiro homem formado de uma terra imaculada, era necessário que o homem perfeito nascesse de uma Virgem igualmente imaculada, para que o Filho de Deus, que antes formara o homem, reparasse a vida eterna que os homens tinham perdido” (Santo André, Cartas dos Padres de Acaia).

E, por fim, São João:

“Maria, é verdadeiramente Mãe de Deus, pois concebeu e gerou um verdadeiro Deus, deu a luz, não um simples homem como as outras mães, mas Deus unido a carne humana.” (S. João Apost. Ibid)

Se tal é o caso, há que se perguntar por que, então, estes escritos não entraram no Cânon. Como é arquiconhecido, foi a Igreja Católica que estabeleceu a lista dos livros sagrados do Novo Testamento. Se ela quisesse, então, impor ou inventar um culto à Virgem que não procedia dos Evangelhos, obviamente que ela teria incluído tais escritos. Se ela não os pôs, foi porque considerou que eles trazem informações que, embora importantes, não cumprem a função primordial dos Evangelhos e dos conteúdos mais centrais da Revelação. O fato de não estarem na bíblia é prova inclusive da honestidade da Igreja. Por outro lado, se considerou não ser necessário colocá-los lá é porque o culto à Mãe de Deus era algo plenamente consensual entre os cristãos, e não havia quem o contestasse dada a sua obviedade. Como vimos, sequer os reformadores do século XVI, inclusive usando o equivocado princípio da Sola Scriptura, negavam o papel singularíssimo da Virgem Maria no Plano da Salvação.


Por fim, o Cardeal Newman, sobre o tema que agora nos ocupa, escreveu:

"Às vezes, nos perguntam porque os escritores sagrados não mencionaram a grandeza de Nossa Senhora. Eu respondo: ela estava ou poderia ainda estar viva, quando os Apóstolos e Evangelistas escreveram sobre ela. Havia um único livro da Escritura que, com certeza, foi escrito depois de sua morte e este livro (o Apocalipse) o fez, por assim dizer, canonizando-a e coroando-a." (Apud HAHN, p. 57)

Milagres Evidentes e Incontestáveis para a Ciência
Um milagre é sempre uma intervenção divina direta e evidente na qual o sobrenatural transparece de modo claro em eventos que fogem às leis naturais. Sabendo que a natureza possui suas leis, é possível concluir que, quando estas leis são negadas num caso em particular, é necessário que se conceba a existência de um agente externo. É uma necessidade.

Os agentes externos à natureza reconhecidos pela perspectiva cristã são de três tipos: anjos, demônios e Deus.

Anjos e demônios possuem a mesma constituição, embora ocupem graus hierárquicos variados. A estes seres, algumas coisas são possíveis e outras, impossíveis. Do ponto de vista das intervenções, podemos dividi-las em três tipos: sinais, prodígios e milagres.

Sinais - do grego semeion - são eventos sensíveis - captados pelos sentidos -, sobrenaturais ou não, e que demandam uma interpretação. Os sinais servem para apontar para outra realidade além da imediata. Eram usados pelos profetas ou por Jesus como meios de suscitar a Fé. O Apóstolo João, por exemplo, atribui aos milagres de Jesus o nome de sinais, pois serviam para identificá-Lo como o Messias. "E os seus discípulos creram n'Ele". (Jo 2,11) Os sinais podem ser causados por entes naturais.

Prodígios - do grego Teras - são manifestações extraordinárias da natureza e que fogem à ordem comum das coisas. Servem para tornar evidente a fragilidade dos discursos naturalistas. Demandam um agente sobrenatural. Os prodígios e os sinais juntos aparecem frequentemente na Escritura (Ex 7,3; Dt 6,22; At 4, 29-31; At 7,35-36)

Milagres - do grego Dynamis, Força, Poder - são manifestações do poder de Deus que realiza feitos impossíveis ao engenho humano e às possibilidades naturais. Transcendem o campo dos prodígios, mais relacionados aos fenômenos da natureza. Em alguns trechos, os três são citados juntos. (At 2,22; 2Col 2,12; Hb 2,3-4; 2Ts 9,12) Um milagre pode ser um sinal, quando tem por objetivo suscitar a Fé, mas pode ser meramente um milagre, quando a Fé já é pressuposta.

A questão que se coloca é: quais são os limites do poder demoníaco? Seriam os entes caídos capazes de operar sinais, prodígios e milagres?

Antes de explicar, convém afirmar já que não é razoável que as suas possibilidades de ação sejam similares às divinas, pois, se fosse o caso, não seria possível distinguir a verdade do erro, e não teriam pecado os fariseus quando atribuíram a Nosso Senhor o agir por meio de Belzebu. Se, ao contrário, Jesus os recrimina duramente, e chega a dizer que as obras que Ele fazia eram testemunhas de que o Pai O havia enviado (Jo 5,36; cf. Mc 16,20) é porque deve haver critérios para o reto discernimento. Assim, os demônios, não obstante possam agir de certos modos, estão limitados e não podem reproduzir realmente certos comportamentos divinos. Isso não os impede, porém, de serem muito convincentes no que armam. Vejamos o que diz sobre isso São Paulo:

"A manifestação do ímpio será acompanhada, graças ao poder de Satanás, de toda a sorte de portentos, sinais e prodígios enganadores." (2Ts 9-12)

Os prodígios que o ímpio aqui realiza são enganadores. Isto é, não são verdadeiros. Não obstante, para os que se convencem fácil e não amam a verdade, será suficiente para seduzi-los. É o que dizem os versículos seguintes. Sobre as possibilidades dos demônios, escreve Sto Tomás de Aquino:

"(...) milagres, em sentido próprio, não nos podem fazer os demônios nem nenhuma criatura, mas só Deus; porque o milagre propriamente dito vai contra a ordem de toda a natureza, cuja ordem compreende todas as virtudes criadas. Porém, chama-se milagre, em sentido lato, ao que excede à faculdade e à razão humanas. E assim os demônios podem fazer milagres, que enchem os homens de estupefação, porque excedem à faculdade e ao conhecimento destes. Pois também qualquer homem, quando faz algo que excede a faculdade e o conhecimento de outro, provoca o espanto deste, com a sua obra, de modo que parece, de certo modo, fazer milagre."

Mas, continua o santo,

"devemos saber que, embora essas obras dos demônios, que nos parecem milagres, não realizem a verdadeira essência destes, con­tudo eles fazem às vezes coisas verdadeiras. Assim os mágicos do Faraó, por virtude dos demônios fizeram serpentes e rãs verdadeiras. E, como diz Agostinho, quando caiu o fogo do céu e de um ímpeto consumiu a família de jó, com seus rebanhos; e um turbilhão destruiu­-lhe a casa e lhe matou os filhos, essas foram obras de Satanás e não fantasmagorias."

E explica:

"Como já se disse antes, a matéria corpórea não obedece à von­tade dos anjos bons ou maus, de modo que os demônios possam pela sua virtude transmutar a matéria de uma forma para outra. Mas po­dem aplicar certos germes existentes nos ele­mentos do mundo, para realizar tais efeitos, como diz Agostinho. Por onde deve-se dizer, que todas as transmutações das coisas corpó­reas, que podem ser feitas por algumas virtudes naturais, entre as quais estão os referidos ger­mes, podem ser feitas por operação dos demônios, com aplicação desses germes; assim quan­do certas coisas são transmutadas em serpen­tes ou rãs, seres que podem ser gerados por putrefação. Porém as transmutações das coisas corpóreas, que não podem ser feitas por vir­tude da natureza, de nenhum modo podem ser realizadas por operação dos demônios, na ver­dade da expressão. E se às vezes algo de tal parece ser feito, por operação dos demônios, isso não se dá real, mas só aparentemente, o que pode acontecer de duplo modo. De um, inte­riormente; assim o demônio pode mudar a fan­tasia do homem e mesmo os sentidos corpóreos, de maneira que uma coisa pareça diversa do que é, como já se disse. E isto também se pode considerar como feito às vezes por virtude de certos agentes corpóreos. De outro modo, ex­teriormente. Pois assim como o demônio pode formar, do ar, um corpo de qualquer forma ou figura, de modo que, assumindo-o, apareça vi­sivelmente, pela mesma razão pode revestir qualquer coisa de uma forma corpórea, de modo que seja visto, na figura desta. E é o que diz Santo Agostinho: a fantasia do ho­mem, mesmo quando este pensa ou sonha, va­ria conforme os inumeráveis gênios das causas e, como corporificada na imagem de algum ani­mal, aparece aos outros sentidos entorpecidos. O que significa, não que a virtude fantástica do homem, ou uma espécie da mesma, corpori­ficada e com ela numericamente idêntica, seja manifestada aos sentidos de outrem, mas que o demônio, que forma uma certa espécie, na fan­tasia de um homem, também pode apresentar outra espécie semelhante aos sentidos de outro homem."

(Suma Teológica, Art. 4.)

O que Sto Tomás está dizendo são duas coisas:

A primeira, é que os sentidos humanos podem ser manipulados pelos demônios de modo que vejamos e/ou imaginemos coisas e figuras projetados por ele.

A segunda, é que os fenômenos podem ser verdadeiros, mas produzidos de modo natural, ainda que por meios que nos escapam. Como eles têm capacidade de agir na matéria e inclusive, em virtude da agudeza de sua inteligência, fazer previsões a médio e longo prazo e lidar com um encadeamento de causas que escapa em muito o horizonte de atenção humana, então é possível produzir, por via material, certos fenômenos que se julgava impossíveis, ou prever coisas que ocorrerão no futuro pela própria ordem atual dos entes.

A estes dois tipos de ação, porém, falta o essencial para que se trate de um milagre, que é a intervenção direta e extraordinária sobre os entes físicos fazendo-os agir de um modo alheio à sua própria constituição.

Neste outro trecho, Sto Tomás é ainda mais claro:

"Entre os milagres, há os que não são verdadeiros, mas fatos imaginários, que enganam o homem, fazendo-o ver o que não existe. Outros, são fatos reais, embora não mereçam verdadeiramente o nome de milagres, pois são produzidos por certas causas naturais. Ora, essas duas categorias de milagres podem ser feitas pelos demônios. Os verdadeiros milagres não podem ser realizados senão pelo poder divino, pois Deus os produz para a utilidade do homem." (ST II-II, 178, 2)

Vejamos, então, alguns milagres atribuídos à Virgem Maria. Há, em verdade, uma infinidade deles. Mas nos dedicaremos aqui a apenas três.


1º Corpos Incorruptos

Corpos incorruptos são aqueles que não se decompõem depois da morte. A Igreja os possui em mais de dois mil. Na verdade, eles não permaneceram assim porque alguém pediu que a Virgem o fizesse. Nem sequer faz sentido que alguém peça que um dado corpo não se decomponha. Assim, não é possível atestar que tenha sido a Virgem Maria a operadora do milagre. No entanto, o que se comprova é que muitos dos corpos incorruptos pertenceram a pessoas profundamente devotas a ela, e inclusive que se lhe consagraram na qualidade de escravos - uma devoção bem conhecida e promovida por São Luís Maria Grignion de Montfort. Alguns desses corpos, além disso, exalam um perfume desconhecido e que não cessa.

Vejamos as possibilidades de que haja engano:

A primeira delas é que seja um fenômeno natural. De fato, há modos naturais de preservar um corpo da decomposição. Algumas dessas técnicas foram usadas no Egito. Dentre elas, temos a plastinação, a mumificação, o adipocere, etc.

Alguns dos casos católicos são falsos, como Sta Margarida de Cortona ou João XXIII. Ambos foram submetidos a processos químicos post mortem. Em outros, afirma-se que o processo se deveu às condições favoráveis do túmulo. Tal foi o caso, por exemplo, do famosíssimo Pe. Pio, que já apresentava alguns sinais de deterioração e ao qual puseram uma máscara de silicone e também o submeteram a operações químicas. Convém, no entanto, dizer que a exumação ocorreu quarenta anos depois da sua morte, e o que chamou a atenção aos médicos foi o fato de o corpo não apresentar nenhum sinal de mau cheiro.

No entanto, vários são os casos autênticos que foram avaliados e se constatou a ausência de manipulações químicas e de qualquer indício de decomposição. Em alguns santos, esse fenômeno ocorre de modo temporário, como foi o caso de São Charbel Makhlouf, que, mesmo depois de vários dias morto, como os habitantes vizinhos ficavam vendo luzes próximas ao seu túmulo, ao ser exumado, constatou-se que não apenas estava incorrupto, como ficava continuamente suando, motivo pelo qual não sabiam se o deixavam vestido ou nu. Com o tempo, porém, seu corpo se decompôs.

Com o corpo de São Francisco Xavier também ocorreu algo semelhante. Enterrado em 1552. Para que seu corpo se desfizesse logo, puseram-lhe cal por baixo e por cima dele, que é uma substância altamente corrosiva. No entanto, meses depois, quando exumado, estava em perfeito estado. E assim ficou, flexível e com cor natural, por 60 anos. Em 1614, porém, alguém teve a idéia de jerico de distribuir-lhe as partes do corpo para veneração em diferentes igrejas. Amputando-lhe o braço, o corpo sofreu uma hemorragia e passou a ressecar. Depois chegaram até a extrair-lhe órgãos internos, ao que ele foi "murchando". Mas até hoje, embora modificado, ainda é exposto para veneração. 

Em vários outros, porém, o estado de incorruptibilidade segue de vento em popa. É o caso - talvez o mais famoso - de Sta Bernadette Soubirous. Vidente de Nossa Senhora em Lourdes, ela foi miraculosamente preservada. Em 1909, ela morreu. Trinta anos depois, na sua exumação, constatada por dois médicos - os Drs Ch. David e A. Jordan -, verificaram que o corpo estava absolutamente intacto, sem nenhum odor, apresentando apenas rigidez, o que é típico dos defuntos. Dez anos depois, numa segunda exumação, novamente intacto. A pedido do bispo, foram-lhe retiradas duas costelas e um pedaço do diafragma, como relíquias. Em 1923 houve uma terceira exumação, com mais retiradas de relíquias. O figado da santa estava em perfeito estado. Ao lado do corpo da santa, se encontra uma placa com os seguintes dizeres:

"O corpo de Santa Bernadette repousa nesta capela desde 3 de agosto de 1925. Ele está intacto e 'como se estivesse petrificado' segundo foi reconhecido pelos médicos juramentados e pelas autoridades civis e religiosas por ocasião das exumações de 1909, 1919 e 1925.
O rosto e as mãos, que escureceram no contato com o ar, foram recobertos com ligeiras camadas de cera, moldadas segundo os modelos recolhidos diretamente. 
A posição inclinada para o lado esquerdo foi assumida pelo corpo no túmulo."

Se o leitor quiser mais detalhes deste caso, veja aqui.

Uma outra santa, ainda, está incorrupta e sentada: Sta Catarina de Bolonha. De dois em dois anos é feita uma radiografia na sua coluna pra ver se ela cede, e sempre se constata que ela se mantém firme. Nascida em 8 de setembro de 1413, Bolonha, Itália, faleceu em 1463. Era mística, profetiza, visionária, fazia grandes milagres e decifrava manuscritos. Era também pintora e, tendo recebido a visitação da Virgem com o menino Jesus num dia de Natal, pintou um quadro retratando o ocorrido. Depois de sua morte, milagres ocorriam ao redor da sua tumba. Ela havia sido enterrada sem caixão. Com dezoito dias, devido aos fenômenos, foi exumada. Tão logo desenterraram-na, um misterioso perfume exalava do seu corpo. Em seguida, foi posta numa cadeira. O Dr. Maestro Marcanova, ao analisar o caso, não soube explicá-lo. Até hoje ela está nesta cadeira e é submetida a uma avaliação de dois em dois anos.

Há inúmeros casos, mas como este texto não trata disto especificamente, ficamos com estes dois. Aqui a causa sobrenatural é evidente, visto que não há procedimentos de embalsamento nem manipulações químicas. A devoção dessas santas à Virgem Maria é inegável, sendo a primeira sua vidente em Lourdes. Se não são naturais, são provocadas por entes sobrenaturais.

Deus ou os demônios?

Vimos que os demônios não podem manipular a matéria como queiram. O que eles podem é influenciá-la dentro das suas leis naturais. Ora, é intrínseco aos corpos compostos que se decomponham quando lhes cessa a vida. O perfume que exalam também é totalmente desconhecido, não possuindo sua origem em nenhum responsável físico. Temos, assim, um fenômeno que transcende as possibilidades demoníacas.

Outra forma de atuação dos demônios é a ludibriação sensitiva, isto é, a distorção das informações captadas pelos sentidos e recebidas na imaginação. Isto, porém, é um fenômeno produzido num ou noutro, mas nunca em todas as pessoas nem por tempo indeterminado. Assim, o que vemos não é uma mera aparência, mas um acontecimento real e essencialmente sobrenatural.

Assim, resta-nos somente uma possibilidade: a divina. É Deus quem realiza os fenômenos descritos, e se o faz, isto testemunha da santidade dessas pessoas. E como eram profundamente devotas da Virgem Maria, fica provada a eficacíssima influência da Virgem nos diletos de Deus.


A Virgem de Guadalupe

Este é um fenômeno mais estritamente mariano. Guadalupe é uma cidade no México. Em 9 de Dezembro, o índio Juan Diego andava pelo monte Tepeyac. Apareceu-lhe então a Virgem Maria e lhe perguntou nos seguintes termos:

“Meu filho, a quem amo ternamente, como a um filho pequenino e delicado, aonde vais?”

‒ “Vou, nobre Senhora minha, à cidade, ao bairro de Tlaltelolco, ouvir a santa missa que nos celebra o ministro de Deus e súdito seu”, respondeu ele.

A Virgem continuou:

‒ “Fica sabendo, filho muito querido, que eu sou a sempre Virgem Maria, Mãe do verdadeiro Deus, e é meu desejo que me erijam um templo neste lugar, de onde, como Mãe piedosa tua e de teus semelhantes, mostrarei minha clemência amorosa e a compaixão que tenho dos naturais e daqueles que me amam e procuram; ouvirei seus rogos e súplicas, para dar-lhes consolo e alívio; e, para que se realize a minha vontade, hás de ir à cidade do México, dirigindo-te ao palácio do bispo que ali reside, ao qual dirás que eu te envio e que é vontade minha que me edifique um templo neste lugar; referirás quanto viste e ouviste; eu te agradecerei o que por mim fizeres a este respeito, te darei prestígio e te exaltarei”

Juan, naturalmente reticente, foi. Lá chegando, foi obviamente desacreditado. Voltando ao monte, ele pediu à Virgem, que novamente lhe apareceu, que ela procurasse alguém mais importante e nobre que ele, "em quem se possa acreditar". Ela então o pede para ir buscar algumas rosas num lugar ali perto, sendo que naquela época não era possível colhê-las. Ele, porém, as encontra e as põe num manto (tilma) que os índios costumavam usar sobre a roupa e com o qual se cobriam quando dormiam ao relento. Em seguida, a Virgem lhe pediu pra voltar ao bispo e mostrá-las a ele. Depois das novas hesitações, o bispo aceitou recebê-lo. Juan Diego então soltou o manto deixando as rosas caírem no chão. Neste momento, viu-se impressa no manto grosseiro a imagem da Virgem Maria. Embora tudo isso já fosse extraordinário, o que tira o fôlego começa agora, com a análise da imagem.

Vamos apenas as características principais.

1- A "tinta" da imagem não é de natureza animal, nem vegetal, nem mineral;

Só isso já foge da alçada do demônio que não pode criar nenhuma substância. Ao leitor, lembramos que tudo quanto há nesse mundo é sempre de natureza ou vegetal, ou animal, ou mineral. Observe então os seguintes pontos:

2- A "tinta" está como suspensa sobre o tecido (3 décimos de milímetro) de modo que não o toca estritamente;

3- O tecido foi elevado a uma resistência muito acima do que lhe era possível. Pano grosseiro, no qual os índios mexicanos se enrolavam na hora de dormir, tendia a resistir de 10 a 15 anos. E, no entanto, lá se vão cinco séculos - desde a aparição em 1531 - em que a capa está preservada;

4- As flores no manto da Virgem ocupam precisamente os lugares correspondentes às montanhas no México;

5- As constelações impressas no seu manto expressam com rigor a disposição dos astros no momento da aparição, além do que trazem um forte elemento simbólico: na cabeça, há a constelação da coroa boreal; no seio, a de virgem, etc.;

6- Os olhos da Virgem, se maximizados, revelam as figuras que ela via no momento em que o senhor bispo ajoelhou-se diante de Juan Diego. Seria impossível reproduzir isso por qualquer técnica artística;

7- Os olhos da Virgem reagem a luz, dilatando a pupila quando um facho se lhes aproxima;

8- O desenho não teve esboço e também não há quaisquer sinais de pincelada.;

9- Um estetoscópio revelou pulsações (115 por minuto) na criança da qual a Virgem está grávida.

10- Além de a imagem estar grávida, ela também aparece com uma fita no seio e os cabelos soltos, divididos ao meio, características de uma virgem na cultura asteca. Maria, portanto, é uma Virgem Mãe.
Ah, e é interessante dizer que a Virgem, no manto, está rodeada pelo sol - como que vestida - e tem a lua sob os pés. Onde foi que a gente já viu isso, mesmo? ...

Lembramos que o leitor é livre para fazer suas pesquisas. Se acha que o manto de guadalupe é fruto de algum pintor sacana, vá procurar.. Você verá que várias pesquisas já foram feitas nele, e nenhuma delas dá conta de explicar o fenômeno. Ahhh, íamos esquecendo: as proporções da figura apresentam o famoso "número áureo", uma precisão matemática que está em toda a natureza e que é dita, vejam só, ser a "assinatura de Deus". Hehe.. Muito apropriado..

Vamos ao último milagre observado:
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