O Culto à Santíssima Virgem e o seu papel no Plano da Salvação-05


Por meio do exílio e de todos os altos e baixos de sua história subsequente, o povo de Israel olharia para trás, para o reino de Davi, como um modelo; e olhariam para a frente, para o seu futuro com a vinda do Messias, o Ungido, rei-Sacerdote de Deus. Mesmo nos dias de Jesus, os fariseus não hesitaram em identificar o Messias como 'o Filho de Davi' (Mt 22,42). Pois o Senhor tinha prometido a Davi que um rei em sua linhagem governaria um dia todas as nações, e ele reinaria para sempre: 'Eu vou levantar sua descendência depois de ti, que sairá de seu corpo. E eu confirmarei o trono do seu reino para sempre. Eu serei seu pai, e ele será Meu filho' (2Sm 7,12-14). Encontramos a promessa mencionada no livro dos Salmos assim: 'O Senhor jurou a Davi e não retirará sua palavra: 'É o fruto de tuas entranhas que vou colocar no teu trono! Porque o Senhor escolheu Sião, ele a quis para sua morada: 'É este o meu repouso para sempre; aqui vou morar, porque o desejei' (Sl 132,11-13).

Os profetas expressaram a combinação de nostalgia e saudade de Israel e predisseram a vinda do Messias com incrível precisão. Mesmo antes da época de Sedecias, Isaías predisse que a linhagem de Davi - linhagem do tronco do pai de Davi, Jessé - seria reduzida a um 'broto', 'um ramo', mas de cujo broto viria adiante 'a justiça', 'a morada': o Messias (Is 11,1). 'Ouvi, então, vós da casa de Davi [...]. O próprio Senhor vos dará um sinal. Eis que a virgem conceberá e dará à luz um filho, e lhe porá o nome de Emanuel' (Is 7,13-14)." (p.61-63)

Na sua genealogia, Mateus faz Jesus descender de Davi (cf. Mt 1,1) Que Jesus fosse da casa de Davi não era um pormenor destituído de valor, uma vez que o próprio Deus, porque o desejou, predeterminou desde antes que assim seria e o comunicou ao Seu povo. A genealogia de Mateus, porém, apresenta algumas diferenças das genealogias judaicas. Como sabemos, a referência bíblica da família de alguém é geralmente masculina. Deus mesmo se declara o Deus de Abraão, Isaac e Jacó, que nada mais são do que uma descendência. Mateus, porém, inclui na sua genealogia 4 mulheres, algo inédito. Estas mulheres, pior, trazem traços não muito apreciados pelo moralismo judaico. Elas são: Tamar (1,3), uma cananeia que fez sexo com seu sogro (Gn 38,15-18); Raab (Mt 1,5), prostituta e cananéia pagã (Js 2,1-24); Rute (Mt 1,5), pagã moabita; e Betsabá, esposa de Urias, com quem o rei Davi cometeu adultério. Por que será que Mateus faz isso?

O Dr. Hahn vê nisso um modo de responder antecipadamente aos críticos de Jesus que vissem na afirmação do seu nascimento virginal um motivo de ironia. Inclusive, ele diz que Jesus, em alguns trechos do Talmud, é chamado de "bastardo", pois referenciar um homem pela sua mãe era algo insultuoso. Ao relembrar, porém, aos judeus o papel dessas mulheres na ascendência de Salomão, que era o próprio tipo da filiação davídica, sendo Betsabá a sua mãe, Mateus os calava de antemão, pois que se poderia falar de uma Virgem em comparação com estas outras mulheres que, não obstante, ocupam lugar tão importante nos fatos bíblicos?

Para prosseguirmos, convém notar algumas relações entre o Apocalipse e os Salmos do Rei Davi. No Salmo 2, conhecido como "O salmo do Cristo"ou "do Ungido", lemos: "Por que tumultuam as nações? Por que tramam os povos vãs conspirações? Erguem-se, juntos, os reis da terra, e os príncipes se unem para conspirar contra o Senhor e contra seu Cristo. Dirigindo-se a eles em cólera, ele os aterra com o seu furor." (1-2;5) Isto parece se aproximar com o relato mais sintético de Apocalipse 11,18: "Irritaram-se os pagãos, mas eis que sobreveio a tua ira." A referência ao "cetro de ferro em Ap 12,5 é também uma retomada do Sl 2,8-9. Com isso, queremos mostrar as relações entre o Rei Davi e o livro do Apocalipse.

O traço mais importante dessa referência davídica, porém, ainda está por vir.

Em Israel, Davi era rei. Logo, Israel é uma monarquia. Naquela época, era comum que o rei tivesse várias esposas. Vemos que Salomão, filho de Davi, possuía 700 esposas, mais 300 concubinas. Numa tal situação, era muito complicado descobrir quem deveria ser reconhecida pelo povo como rainha e quem deveria ter direito à sucessão ao trono. No Oriente Médio, na maior parte das vezes, esse problema foi resolvido elegendo a mãe do rei como rainha. Isto era conveniente também pelo fato de que ela personificava a continuidade do império enquanto esposa do rei anterior e mãe do atual. Israel, que queria um rei para si, "como todas as outras nações" (1Sm 8,19-20), estabeleceu uma dinastia e adotou então este costume de honrar o rei e a rainha mãe.

Salomão, o protótipo do Rei de Israel, o tipo do Messias, reinará com a sua mãe, Betsabá, sentada à sua direita. Este posto de Rainha Mãe de Israel, que recebe o nome de Gebirah (grande dama), será mantido durante toda a descendência davídica. Mesmo quando os babilônios invadem Jerusalém e deportam a família real para a Babilônia, Neústa, mãe do rei Joaquim, é citada com destaque entre as suas esposas (Cf 2Rs 24,15; Jr 13,18).

O Dr. Scott Hahn esclarece:

"Entre Betsabá e Neústa havia muitas rainhas-mães. Algumas trabalharam para o bem, outras não; mas nenhuma era uma simples figura decorativa. Gebirah era mais do que um título; era uma função com autoridade real." (p.66-67)

Em seguida, ele chama a atenção para uma passagem que descreve a relação real entre Salomão e a sua mãe:

"Então Betsabá foi ao rei Salomão para lhe falar sobre Adonias. O rei se levantou para recebê-la e se inclinou diante dela. Depois se assentou no trono, mandou trazer um trono para a sua mãe, e Betsabá se sentou à sua direita." (1Rs 2,19)

Hahn continua:
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