O celibato sacerdotal: por quê, se S. Pedro era casado?





Não. Não havíamos publicado ainda nenhum post falando sobre este assunto, até agora. Mas já existia a necessidade de escrevê-lo, porque se trata de um tema recorrente. De tempos em tempos, tanto pelas vias  virtuais quanto em conversas particulares, surge a pergunta insistente que dá título a este artigo: "Por que a Igreja não deixa que os padres se casem, se até S. Pedro era casado?". Em alguns casos, quando a ignorância a respeito do assunto é mais profunda, há até um acréscimo totalmente fictício: chegam a incluir S. Paulo no rol de Apóstolos casados... 

Completo absurdo! Permita-me então, caro anônimo, antes de tudo, efetuar um esclarecimento: S. Paulo Apóstolo não era casado, de modo algum. Pelo contrário, em sua primeira epístola aos Coríntios ele afirma seu estado civil com todas as letras e muita veemência, não só defendendo o celibato e a castidade, mas também dando a entender que ele preservava a sua própria virgindade, como veremos mais adiante. Já de S. Pedro, sim, as Sagradas Escrituras mencionam sua sogra, o que demonstra que ele tenha em algum momento, antes de conhecer nosso Senhor, se casado. Mas seria este fato, por acaso, o sinônimo de uma declaração bíblica explícita no sentido de que todos os sacerdotes deveriam contrair Matrimônio? Por mais inacreditável que pareça, muita gente pensa que sim, e não são só os mais ignorantes. Incrivelmente, vemos gente esclarecida caindo na mesma esparrela. 

Há alguns anos, por exemplo, o jornalista Reinaldo Azevedo, pensador importante e que muito admiramos, publicou um artigo intitulado, simplesmente: "O desastre do celibato: São Pedro tinha sogra!", – assim mesmo, com ponto de exclamação logo após a palavra "sogra", como se isto supostamente revelasse uma "bombástica" verdade escondida, e como se este fato demolisse toda a tradição de mais de um milênio e meio do celibato sacerdotal na Igreja de Cristo. – Parece mesmo difícil acreditar, mas até um homem estudado e douto é capaz de se comportar como uma verdadeira (perdoe-nos o mau jeito) "besta humana" diante de uma questão tão simples.



Ora, ainda que S. Paulo fosse casado, juntamente com S. Pedro e esses "tantos outros" que o autor anônimo do comentário cita sem dizer nomes, isso não seria prova alguma de que o celibato seja um equívoco, ou que deva ser justamente combatido pelos fiéis católicos. São situações como esta que nos levam a refletir em quanto é nocivo que as Sagradas Escrituras sejam lidas e estudadas por toda a gente, sem nenhuma preparação, sem nenhum acompanhamento. A Bíblia realmente não deve ser lida por qualquer pessoa, desorientada, pois, para entendê-la, são necessários certos conhecimentos prévios.

A Bíblia, na Antiguidade, era lida pelos sacerdotes, para que a explicassem ao povo mais simples. Isto porque ela não pode ser lida senão por pessoas que possuam a prévia disposição de aceitar a interpretação dada pela Igreja através do Papa, sucessor de São Pedro, que recebeu de Cristo as chaves do Reino dos Céus. Nessas condições, sim, é utilíssima, recomendável e salutar a leitura das Sagradas Escrituras, – sabendo-se que elas não contém em si mesmas o conteúdo total da Revelação.

Entendidos estes pontos fundamentais, convém saber que o celibato sacerdotal é uma disciplina que a Igreja observa desde a sua origem, isto é, desde os tempos apostólicos, ainda que não como regra geral. Não é verdade, como querem alguns, que tenha se iniciado com o Concílio de Trento ou que seja uma invenção medieval do Concílio de Latrão, como veremos mais adiante.





Segundo as Escrituras

Seria possível justificar, mesmo usando apenas a Bíblia, – o que não é o modo católico, – que o celibato sacerdotal tem raiz nos Evangelhos? A resposta é um sonoro sim, e de fato trata-se de uma questão bastante simples.

Antes de dar essa justificação, porém, convém lembrar que, segundo a mesma Bíblia Sagrada, o Matrimônio é santo e estabelecido por Deus. Dispensamo-nos de citar os textos bíblicos que todos, – sejam católicos, ortodoxos, protestantes ou ateus ativistas, – deve bem conhecer e que legitimam o Matrimônio como instituição divina, desde o princípio do mundo, e sua elevação a Sacramento por Cristo. Quanto a isso realmente não há dúvida nem existem polêmicas.

Para encaminhar a questão do celibato sacerdotal, então, restaria discutir o que é superior: o Matrimônio ou o "estado de virgindade" consagrada a Deus. Também não é difícil demonstrar que , segundo as Escrituras, espiritualmente o estado de virgindade é superior ao dos casados. O próprio Senhor Jesus Cristo atesta que:


“Todo aquele que por minha causa deixar irmãos, irmãs, pai, mãe, esposa, filhos, terras ou casa, receberá o cêntuplo e possuirá a vida eterna."
(Mt 19,29)

O mesmo Cristo diz também:

“Nem todos são capazes desta resolução, mas somente aqueles a quem isto foi dado. Porque há alguns eunucos que nasceram assim, do ventre de sua mãe; e há outros eunucos, a quem outros homens fizeram tais; e há outros eunucos que a si mesmos se fizeram eunucos por amor ao Reino dos Céus. O que é capaz de compreender isto, compreenda-o."

(Mt 19,11-12)


Evidentemente, Jesus não estava pedindo uma mutilação física, assim como quando disse que era melhor arrancar um olho do que pecar com ele (Mt 5,29), não estava incentivando que as pessoas se cegassem. Cristo, falando em "eunucos" voluntários, se referia àqueles homens que, por amor a Deus, renunciavam à possibilidade de ter mulher, como vimos na citação anterior.

O próprio Senhor Jesus Cristo, – Sacerdote por excelência, – deu-nos o seu exemplo, não se casando. Não deveriam os sacerdotes imitá-lo? Vemos que são exatamente aqueles mesmos que dizem que não se batiza criança porque Cristo se batizou adulto (supremo absurdo, como demonstramos aqui), que contrariam sua própria lógica, e justamente quando ela seria válida.

Também a santíssima mãe de nosso Senhor foi virgem sempre. Nosso grande pai São José nos deu o mesmo exemplo de castidade. O "discípulo amado" de Jesus, São João Evangelista, manteve-se virginal. São João Batista, de quem Jesus disse não haver maior homem nascido de mulher, foi virgem também. Comumente, a Bíblia nos ensina por meios que vão além da literalidade do texto, nos exemplos dos santos, dos profetas, dos santos anjos, dos homens e mulheres justos, tementes a Deus.

Indo ainda além, encontraremos o testemunho do próprio S. Paulo Apóstolo, na sagrada Bíblia, de que casar-se é bom, mas que permanecer, – assim como ele, – em estado de virgindade é ainda melhor: "Digo também aos solteiros e às viúvas que lhes é bom se permanecerem assim, como também eu. Mas, se não têm o dom da continência, casem-se" (1Cor 7, 8-9).

Entre tantos outros fatores, as palavras de S. Paulo, aconselhando a ser como ele, associadas às palavras do Cristo, sobre o valor dos que deixavam mulher por amor d'Ele, levou a Igreja, sempre guiada pelo Espírito Santo, a estabelecer a lei do celibato. Supor que a Igreja errou, ao fazê-lo, seria negar a Promessa de Cristo de que estaria com ela todos os dias, até o fim do mundo (Cf Mt 28,20). Ou dizer que as portas do inferno prevaleceram sobre a Igreja, o que seria igualmente afirmar que o Senhor falhou com a sua palavra (Mt 16,18).

Quanto ao tão surrado argumento de que S. Pedro fora casado, e que por isso o celibato sacerdotal não teria sentido, o demoliremos com muita rapidez e objetividade. De que Pedro foi casado, não há dúvida. Mas, ora, quando Cristo curou sua sogra, está dito que, tendo sido curada da febre, "ela levantou-se, e pôs-se a serví-los" (Mt 8,14). Se S. Pedro tivesse ainda esposa, seria natural que esta, e não a sogra de Pedro, os servisse. Além disso, em parte alguma as Escrituras mencionam a mulher do Apóstolo. É bem possível, portanto, que S. Pedro tenha ficado viúvo bem próximo ao tempo em que conheceu Jesus Cristo.

Por fim, concluímos dizendo que a Igreja Católica sempre defendeu o Matrimônio como estabelecido por Deus, e condenou as seitas gnósticas, maniqueias e cátaras que proibiam o casamento. Assim, erra quem supõe que a Igreja, impondo o celibato aos sacerdotes, condena o casamento. Ela apenas considera, com e como S. Paulo Apóstolo, que casar é bom, mas que não se casar por amor a Deus é ainda melhor. Por isso, ela criou a lei do celibato para aqueles que livremente queiram ser sacerdotes de Cristo. Se o Sumo Sacerdote, Cristo, viveu virginalmente, os seus sacerdotes devem imitá-Lo.

Por fim, para enterrar de vez a falsa ideia de que o celibato sacerdotal teria sido uma "invenção" tardia na história eclesiástica, reproduzimos abaixo a esclarecedora vídeo-aula do padre Paulo Ricardo de Azevedo Jr. que trata especificamente deste tema, e com a qual encerramos este nosso estudo, rogando mais uma vez a Deus, em Cristo e pela intercessão da santíssima Virgem, que nosso trabalho possa ter alguma utilidade no esclarecimento das almas.



Fontes e ref.:
STICKLER, Alfons M. 'Celibato eclesiástico – história e fundamentos teológicos', disp. em:
presbiteros.com.br/site/celibato-eclesiastico-historia-fundamentos-teologicos
FEDELI, Orlando. 'Ataque protestante: o celibato sacerdotal', disp. em:
montfort.org.br/old/index.php?secao=cartas&subsecao=apologetica&artigo=20040829211515







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